A Criatividade Infantil

Por Maya Pines 


          Todos eles são famosos mundialmente: 100 pianistas concertistas jovens, nadadores olímpicos, jogadores de tênis, e pesquisadores matemáticos que alcançam o apogeu dos seus campos entre os 17 e 35 anos de idade. Mas os seus nomes é um segredo de uma equipe de pesquisa na Universidade de Chicago que prometeu manter o anonimato a fim de investigar como estas pessoas excepcionalmente talentosas chegaram aonde estão.
          Depois de completar a sua análise da história da vida dessas pessoas notáveis, os investigadores, liderados pelo Professor Benjamim S. Bloom, identificaram várias condições distintas dos dons naturais, e em quase cada caso, parecem ser cruciais na produção da criatividade.
          A informação colhida indica que a maioria dos seres humanos nascem com um potencial imenso - em um aspecto ou outro - e também demonstra o poder extraordinário dos pais.
          Estas condições ambientais variam levemente nos diferentes tipos de talentos, disse Bloom numa entrevista, mas em todos os casos eles envolvem estes fatores:
          * Pais que valorizam e apreciam imensamente ou a música, ou os esportes, as artes ou a atividade intelectual, e encaram-nas como uma parte natural da vida, de maneira que as crianças aprendem o seu "linguajar" tão facilmente como aprendem a falar.
          * Pais que acreditam na ética profissional.
          * Um primeiro professor cordial e amoroso, que faz as lições parecerem brincadeiras e dá recompensas generosamente. Este professor não precisa ser altamente capacitado. Para os pianistas, foi uma professora da vizinhança, para os matemáticos, geralmente foram seus próprios pais. Mas a instrução deve ser dada individualmente e os pais precisam ter um grande interesse por ela.
          * Um segundo professor que tenha enfatizado as habilidades e a auto-disciplina. Novamente, a instrução precisa ser individualizada. Para os matemáticos, o melhor professor é aquele que responde suas perguntas, lhes oferece livros para ler e deixam-no trabalhar independentemente.
          Embora muitas das pessoas entrevistadas fossem indubitavelmente mais talentosas do que a média quando crianças, nenhuma foi uma criança prodígio. "Eles não poderiam ter sido reconhecidos dentro de um grande grupo de crianças ativas quando tinham cinco ou até mesmo dez anos de idade", disse Laureen Sosniak, a coordenadora da pesquisa.
          No que se refere aos pesquisadores, nenhum dos pesquisados foi pressionado a aprender muita coisa numa idade precoce. O professor Bloom salienta que as pessoas que são forçadas a aprender - tal como William James Sidis, um "menino maravilha" que entrou na universidade de Harvard com 11 anos em 1909, e morreu desamparado depois de uma série de empregos obscuros - às vezes deterioram à medida que crescem.

As  primeiras experiências são cruciais
          O professor Bloom passou boa parte da sua vida de trabalho investigando o desenvolvimento do potencial humano. O seu trabalho  anterior indicava que as experiências das crianças durante os primeiros anos, determinam grandemente a sua inteligência e capacidade de aprendizagem, e que a condição ideal para a aprendizagem é o ensino individual.
          Inicialmente, os pesquisadores achavam que os seus pesquisados iriam demonstrar uma habilidade notável quando crianças, e que devido a isso, teriam recebido atenção e instrução especial. Mas na realidade, parece que funcionou exatamente da maneira oposta.
          De acordo com o professor Bloom, os fatores chaves para motivar as crianças são: Quais são os valores do lar? E quanto encorajamento a criança recebe numa idade tenra?
          Os pais de pianistas bem sucedidos gostavam de ouvir música e compraram discos e brinquedos musicais para os seus filhos. Eles cantavam juntos. Eles mostraram aos seus filhos como tocar e escrever notas musicais. Uma mãe se recordava de ter dado à sua filha um piano de brinquedo, que ela mantinha perto do lugar onde a garota brincava. "Não demorou muito para ela começar a tocar músicas sozinha", disse a mãe. "Ela conseguia tocar 25 músicas quando chegou aos quatro anos. Se você tem um instrumento que esteja ao alcance deles, eles o aprenderão."
          Assim que as crianças começaram a mostrar tal capacidade, os membros da sua família fizeram um grande alvoroço sobre o assunto. E as crianças logo perceberam que estavam com toda certeza no caminho certo para receber atenção e elogio. Também foram precocemente expostos à ética profissional. Sloane menciona que os pais incutiram nas crianças que: "Deve-se sempre fazer o melhor possível, que nada menos do que o melhor é suficiente". Esta combinação deu-lhes um bom começo não  somente nas habilidades básicas, mas também na disposição que tiveram de trabalhar duro - qualidades que os seus professores mais tarde recompensariam.
          A maioria dos futuros pianistas começaram as aulas de piano quando tinham cinco ou seis anos, e os futuros nadadores estavam em programas de natação aos oito anos. Os primeiros professores dos pianistas eram "locais, não muito sofisticados em termos de música", relatou Sosniak. Foram escolhidos por conveniência e porque eram muito bons com crianças. "Ela carregava uma grande bolsa com barras de chocolate e estrelas douradas para a música, e eu era louco por essa senhora", lembrou um dos pianistas. "Tudo o que eu tinha que fazer era tocar as notas certas no ritmo certo, e ganhava uma barra de chocolate".
          Alguns dos pais freqüentavam as aulas com as crianças e quase todos supervisionavam o ensaio diário. As mães dos pianistas sentavam-se muitas vezes em frente ao teclado com os seus filhos, oferecendo encorajamento ou correção. Aqueles que não se achavam qualificados para ensinar encontraram outras maneiras de ajudar. Uma mãe contou como o seu filho aprendeu a tocar uma marcha fúnebre. "Ele dizia: Você já foi a um funeral. Você acha que esse é o ritmo certo? Então eu andava pela sala como se fosse um metrônomo* ambulante. (* Instrumento para regular a velocidade musical.)
          Quando chegou a hora do adolescente talentoso achar e ser aceito por um professor profissional, o aluno passava 20 a 25 horas por semana de ensaio intensivo. Se isso significasse que não ia sobrar tempo para namorar ou estudar na faculdade, tanto o aluno quanto os pais aceitavam o fato.
        "É quase como uma vocação no sentido religioso" disse o professor Bloom. Ele enfatizou que tais pessoas representam extremos, talvez uma pessoa em 500.000, mas que alguma forma de dedicação a um talento é bom para a criança e é bom para a sociedade. Há uma grande satisfação em se destacar", declarou ele, "e tais esforços são a fonte da maioria das realizações humanas".

Inglês, português, bilínguês...

Revelando por que crianças tornam-se bilíngües tão facilmente

Por Lauran Neergaard, AP 
WASHINGTON - O melhor momento para aprender uma língua estrangeira é entre o nascimento e 7 anos.
Uma nova pesquisa mostra como os cérebros das crianças podem tornar-se bilíngües  facilmente.
Cada linguagem usa um conjunto exclusivo de sons. Os cientistas sabem agora que os bebês nascem com a capacidade de distinguir todos eles, porém essa capacidade começa a enfraquecer, antes mesmo que comecem a falar, antes do primeiro aniversário.

Kuhl oferece um exemplo: o japonês não distingue entre os sons “l” e o “r”, “lima” e “rima” soam igual. Sua equipe comprovou que um bebê de 7 meses de Tóquio e um bebê de 7 meses em Seattle respondem bem diferentes àqueles sons. Mas com 11 meses, o bebê japonês perdeu muita dessa capacidade.

Mas como pode-se testar um bebê? Pelo controle do olhar. Faça um brinquedo divertido aparecer num lado ou no outro, sempre quando tiver um determinado som.  O bebê aprende rapidamente a olhar para esse lado sempre que ele ouve um som totalmente novo, mas semelhante. Escaneamentos cerebrais (não invasivos) mostram como o cérebro está processando a impressão da linguagem.

 Dominar seu idioma principal atrapalha no aprendizado de um segundo, menos familiarizado, sugere a investigação de Kuhl. O cérebro não sintoniza em sons que não se encaixam em sualíngua principal, deixando-os fora da sua percepção.

Em média, bebês monolíngües e bilíngües começam a falar em torno de 1 ano e podem falar 50 palavras com 18 meses.
 É notável que bebês criados bilíngües - simplesmente falando com eles em dois idiomas - possam aprender duas línguas ao mesmo tempo em que a maioria dos bebês leva para aprender apenas um.
Pesquisadores italianos perguntaram-se por quê não houve um atraso, e relataram neste mês na revista “Science” que ser bilíngüe parece tornar o cérebro mais flexível.
Os pesquisadores testaram 44 bebês de 12 meses de idade, para ver como eles reconheciam padrões de três sílabas - palavras sem sentido - apenas para testar a aprendizagem do som. Com certeza absoluta, o controle de olhar mostrou que os bebês bilíngües aprenderam dois tipos de padrões ao mesmo tempo - como “lo-ba-lo” ou “lo-lo-ba”, enquanto os bebês de um idioma aprenderam apenas um, concluiu Agnes Melinda Kovacs Italys da Estudos Avançados.

Portanto, a aprendizagem de uma nova língua fica mais fácil até aos sete anos com a capacidade diminuindo acentuadamente,  após a puberdade.

“Estamos vendo como o cérebro fica mais maleável e apto para criar novos circuitos antes, do que após a puberdade”, diz Kuhl. Isto nos mostra que o processo é totalmente diferente para um adulto, que não aprende da mesma maneira e,  não se tornará (tão bom quanto) um falante nativo.

O que poderia ajudar as pessoas que perderam sua janela de oportunidade na infância? O cérebro do bebê precisa de interação pessoal para assimilar um novo idioma - apenas TV ou CDs não funcionam. Então os investigadores estão tentando melhorar a tecnologia usada para adultos na aprendizagem de línguas, objetivando torná-la mais social,  criando possivelmente os circuitos cerebrais que a criança usa.

Lembra-se dessa dificuldade japonesa do L e do R? Kuhl, cientistas de Tokyo Denki University e da Universidade de Minnesota ajudaram a desenvolver um programa de computador em que pessoas falam “mamalés”, uma linguagem com o mesmo exagero de sons que os pais usam com bebês.
Estudantes japoneses que tinham pouca exposição ao inglês falado, passaram por 12 sessões ouvindo exagerados L's e R's vendo o rosto de instrutores computadorizados pronunciando palavras em inglês. Escaneamentos do cérebro feitos com um dispositivo chamado MEG (magnetoencephalografia), que mede a atividade cerebral em milissegundos, mostrou que os alunos conseguiam melhorar a distinção entre aqueles sons alienígenas. Também pronunciaram melhor stes sons, relatou a equipe no Jornal “Neuroimage”.

“A nossa tentativa é muito preliminar, mas os resultados foram fenomenais”, diz Kuhl. “Entretanto, prefiro ver os pais seguir o processo biológico e expor  os jovens desde o início a falar  uma segunda língua em casa, buscar um grupo para brincar ou um educador para que  seu filho possa ouvir outro idioma regularmente.”
“Você ficará surpreso”, diz Kuhl. “Eles absorvem como esponjas”.

(traduzido por gringo, desculpe qualquer erro)

As Histórias da Aninha


Um jeito especial de contar histórias
Por Doris Brett

Como funcionam as histórias

            As histórias da Aninha nasceram há cerca de sete anos. Elas surgiram, assim como muitas outras coisas valiosas, de uma época de crise. Em termos de mundo, a crise não era muito significativa, mas aos olhos da nossa filha de três anos, era de fazer a terra estremecer - ela estava para entrar no jardim de infância.
            Era uma tarde normal de domingo e tínhamos acabado de não fazer todas as coisas que queríamos fazer naquele fim de semana, quando minha filha entrou de fininho no quarto.
            - Mamãe... - disse ela numa voz estremecida. Eu levantei os olhos. Poucos momentos antes ela estava rindo e brincando com o pai.
            - Tenho uma dor de cabeça na minha barriga - continuou. Olhei para ela. Ela estava muito perturbada. Não demorou muito para perceber que a dor de cabeça na barriga tinha chegado no preciso momento em que o papai anunciara, no tom de voz muito empolgado, que as aulas no jardim de infância começariam na semana seguinte.
            Naquela altura, Amantha era uma menina um tanto tímida (ela agora é uma garota de dez anos muito sociável que faz qualquer coisa para conseguir uma audiência, e que prende qualquer um com o maior papo na lanchonete). Todavia naquela época, as situações nas quais se encontrava em grupo costumavam deixá-la pendurada na barra da minha saia e, como acontece com muitas crianças tímidas, entrar para o jardim de infância era tão atraente quanto uma injeção na testa.
            Martin, meu marido, um analista de sistema e sempre a pessoa racional da nossa casa, tinha lidado pacientemente com os temores dela - havia se sentado com ela regularmente e explicado-lhe simplesmente que não havia nada a temer no jardim de infância. Ele lhe disse que as professoras cuidariam dela, as crianças brincariam com ela, que ela se divertiria à beça, e daí por diante. Amantha se submeteu a ele ouvindo-o em silêncio, mas estava bem óbvio pelo olhar dela que havia uma brecha de credibilidade do tamanho do Grande Canyon. O papai pode entender de computadores e de consertar brinquedos, mas evidentemente era terrivelmente ignorante dos pavores e perigos a espreita para cair em cima de garotinhas tímidas nos seus primeiros dias num jardim de infância.
            Foi então que contei a primeira História da Aninha para a Amantha.
            Aninha era uma garotinha que morava numa casa toda de tijolos com sua mamãe, seu papai e um cachorro preto bem grande, igualzinho a Amantha. E, assim como Amantha, Aninha tinha um problema. Ela estava com receio de entrar no jardim de infância. A história prosseguia com a Aninha na sua luta contra seus temores e um final bem sucedido.
            Amantha ficou impressionada. Pediu-me para repetir a história vez sem conta e, quando o primeiro dia de aula finalmente chegou, ela o enfrentou muito bem, na verdade, bem à maneira da Aninha.
            Isso não foi de surpreender, porque enquanto parecia que Amantha tinha simplesmente escutado uma história infantil comum, por dentro ela estava, na verdade, usando-a e com bastante eficácia, como uma maneira de lidar e superar seus temores.
            A maneira que encontrou de fazer isso foi identificando-se com sua heroína, a Aninha.
            Coloque-se no lugar delas: Muitas vezes as crianças acham muito difícil falar sobre seus problemas. Semelhantemente, uma pessoa adulta pode estar tão preocupada, por exemplo, que seu marido esteja a ponto de lhe deixar, que não consegue suportar falar sobre o assunto e em vez disso se esforça freneticamente para fingir que tudo está normal.
            Imagine então esta mulher, vivendo com um pavor não pronunciado e explodindo com perguntas não feitas. Como vai lidar com a situação? Imagine-a um dia pegando numa revista que contém uma pequena história. Esta história se trata de uma mulher da sua idade em circunstâncias semelhantes, com temores e sentimentos idênticos. A história conta como esta mulher enfrentou sua situação, o que ela sentiu e como lidou com aqueles sentimentos, e principalmente, como conseguiu passar por aquilo e resolver uma situação difícil de uma maneira aparentemente positiva e fortalecedora.
            É bem provável que a história fosse lida avidamente. Que a leitora pudesse vivenciá-la como se tivesse uma atração quase magnética por ela e causasse um forte impacto.
            Embora ela não conseguisse sequer pensar em si diretamente nessa situação dolorosa, é mais fácil pensar sobre outra vivendo a situação.
            Esta sensação de segurança - de que não está acontecendo conosco mas sim à outra pessoa - de fato nos permite pensar na situação temida, de nos aproximarmos dela, a compreendermos, e às emoções que advêm dela, de uma maneira que não fora possível antes, quando nos impedimos de ponderar sobre o assunto.
            Isso por si só pode ser um grande alívio. Os sentimentos que haviam crescido como o vapor numa panela de pressão, agora talvez possam sair através deste escape de segurança.
            A experiência de ler uma história sobre alguém como nós também pode ser muito reconfortante. Alguém lá fora sabe realmente como é se sentir como nós. Não somos as únicas pessoas que nos sentimos tão assustadas e incapazes. Estar ciente que outras pessoas também se sentiram assim pode ser incrivelmente útil para aqueles que se sentem isolados com seus problemas e inferiores a outras pessoas "normais", que imaginamos que enfrentam seus problemas muito melhor do que nós jamais o faríamos.
            Finalmente, ler uma história que mostra uma mulher lidando com uma ameaça na sua vida de forma positiva e bem sucedida, poderá nos oferecer um exemplo de muita utilidade. Talvez possamos aprender com ela algumas maneiras de como nós também podemos enfrentar melhor a situação e obter da história um pouco de esperança e a sensação de que também conseguiremos.
            As histórias da Aninha trabalham através do mesmo princípio, mas são destinadas às crianças. Enquanto que a adulta do exemplo teve que ler sobre sua companheira numa revista, a criança é capaz de escutar sobre seu alter ego (outro ego) através da maneira confortável de uma história contada pela mamãe ou pelo papai.
            Isso já é uma experiência muito útil em si. Longe do conteúdo da história, significa que a criança está recebendo uma dose de intimidade tranqüila e amorosa com um dos pais. Assim, ao mesmo tempo que a história ajuda a criança a lidar com suas várias situações problemáticas, também fortalece a ligação entre pais e filhos, o que em si é uma fonte tremenda de segurança e consolo. Não somente para a criança, devo acrescentar, mas para os pais também.
            Não podemos resolver os problemas dos nossos filhos por eles. Eles precisam, no final, aprender a resolvê-los por si mesmos. O que podemos fazer é ajudá-los neste processo oferecendo-lhes força, fé em si mesmos, e a confiança e a esperança para procurarem uma solução vitoriosa sozinhos.
            Podemos fazer isso ao escutá-los e tentar compreender seus temores e preocupações. Podemos comunicar nosso amor por eles para que possam aprender a gostar de si mesmos. Podemos deixá-los saber que acreditamos neles, para que possam aprender a acreditar em si. Também podemos conversar com eles através de histórias ou de outras maneiras, de que existem horas quando até mesmo os mais fortes se sentem fracos, e horas quando até mesmo o mais fraco pode aprender a se sentir forte.
            É mais fácil do que você pensa: Existe uma surpresa maravilhosa reservada para você quando começar a usar as histórias da Aninha. De fato, existem várias surpresas à sua espera.
            Uma delas é o fato de que funcionam. Elas realmente ajudam as crianças a lidarem com as situações ou emoções que as preocupam.
            Em segundo lugar, é a surpresa de que estas histórias são geralmente mais fáceis de contar e de inventar do que você imagina. Isso porque, como principiante em contar histórias, você tem a vantagem de não começar com uma página em branco. De fato o tema já está pronto. Os personagens também. Eles são simples paralelos do que está acontecendo na vida real de seu filho. Tudo que precisa fazer é criar o final e os caminhos pelos quais se chegam ao final. É importante que o final destas histórias sejam positivas. Você precisa dar esperança ao seu filho de que ele será capaz de encontrar uma solução para sua angústia.
            Outra surpresa vai ser descobrir o quanto os seus filhos gostarão destas histórias. Eles pedirão para você lhes contar o tempo todo, o corrigirão quando der algum detalhe errado, e muitas vezes o relembrarão quando você não tiver certeza do assunto. Quando minha filha me pede para lhe contar uma história da Aninha, eu muitas vezes pergunto: "Você gostaria que a história da Aninha fosse sobre o quê?"
            "Conte-me sobre a Aninha indo para o dentista," talvez seja a resposta dela, e invariavelmente o assunto que ela escolher será o que a preocupa no momento.
            Depois de um tempo, as crianças conscientemente percebem que as histórias da Aninha são um paralelo à sua própria vida. Isso não parece perturbar nem prejudicar a eficácia da história para elas. Ainda as deixa livres para fingir que não passa de uma história quando precisarem, ou para relacioná-las à sua própria situação quando apropriado.
            Personalizar as histórias: Escolhi o nome Aninha porque o nome da minha filha é Amantha. "Aninha" soa parecido mas não é idêntico. Aninha mora numa casa como a nossa, tem um cachorro como o nosso, mas tem um nome diferente, e tem um estilo de vida semelhante ao nosso. Ou seja, só os nomes foram trocados. Desde que os nomes sejam trocados, os outros detalhes podem muitas vezes permanecer idênticos.
            Escolher um nome: Quando você inventar suas próprias histórias da Aninha, mude o nome da Aninha para um parecido com o do seu filho e mude as características e estilo de vida para um adequado ao seu. Se seu filho for um menino, Aninha pode virar André.
            Ao inventar a história, seu filho lhe mostrará como você está se saindo. Se ele estiver interessado e receptivo, significa que você está atingindo o alvo. Se ficar entediado, talvez não precise mais dela. Quando as crianças superam aquele problema geralmente perdem interesse naquela história em particular. Se não tiver certeza sobre o tema da sua história pergunte a elas. Se não tiver certeza de como a Aninha estava se sentindo num certo momento, pergunte-lhe: "E como você acha que a Aninha se sentiu então?” (ou: “E o que você acha que Aninha teve vontade de fazer então?")
            Os pais também são ajudados: Ao contar estas histórias, comecei a perceber que os pais da Aninha são pais ideais -calorosos, sábios, fortes e apoiadores. Eles são de fato, os pais dos nossos sonhos - os pais que todos nós queríamos ter.
            Espero que ao contar estas histórias, os pais da Aninha alimentem não somente a criança para quem elas são lidas, mas também a criança dentro de cada um de nós.

Compreender o seu filho

            As crianças parecem pequenos adultos. Elas têm todos os requisitos e equipamento externo - braços, pernas, nariz e boca. Falam a mesma língua que nós. É tentador então supor que pensem como nós. Mas não pensam.
            A maioria de nós, pais, descobre isso da maneira difícil ao tentar pacientemente "raciocinar sobre as coisas" com uma criança de três ou quatro anos.
            Ficamos surpresos e nos perguntamos porque é que nossos filhos não conseguem compreender fatos aparentemente tão evidentes. Talvez a resposta esteja numa olhada mais de perto no que parece ser o mundo para uma criança.
            Como as crianças aprendem - brincadeiras e imaginação: Muitos de nós perdemos as memórias dos temores e fantasias da infância. Já faz tanto tempo que aprendemos as leis da lógica que nos esquecemos de como o mundo parece sem elas. Ficamos intrigados diante de uma criança de dois anos que subitamente tornou-se apavorada com a hora do banho. Nós nos perguntamos “do que ela está com medo?” É o medo de se queimar na água quente da torneira. De morrer afogada? De bater a cabeça na beirada dura? Todos bons temores adultos. Não. Acontece que o que ela tem medo é de escorrer pelo ralo junto com a água da banheira. Uma criança de dois anos simplesmente ainda não desenvolveu um senso sólido do tamanho relativo das coisas. Por isso é difícil convencê-la que seu pequeno corpo simplesmente não caberia no ralo. Levaria muitíssimas horas para a criança brincar com objetos de vários tamanhos antes deste conhecimento ser registrado. Você pode explicar o quanto quiser, mas é a própria vivência pessoal dela que finalmente a convencerá.
            Os adultos estão acostumados a considerar brincar e contar histórias atividades puramente recreativas - coisas que não servem nenhuma propósito "sério". Todavia, para as crianças, brincar é o principal meio de aprender sobre o mundo. Brincar para uma criança é algo tão sério como passar um dia numa biblioteca fazendo pesquisa é para um estudante.
            Viver e aprender: Temos uma variedade imensa de coisas para desenvolver antes de podermos sair para o mundo com segurança. Mencionando apenas algumas: temos que aprender a sentar, levantar, andar, falar, raciocinar, comunicar, cooperar e daí por diante. Estas tarefas são tão numerosas e tão variadas que seria impossível programá-las todas instintivamente para um desempenho impecável. Elas precisam ser aprendidas e praticadas. E é aqui que entram as brincadeiras.
            Alguns teoristas também vêem as brincadeiras como uma oportunidade de gastar energia extra. Todos os que já estiveram em contato com as crianças reconhecem que elas possuem uma fonte de energia superior, aparentemente infinita. Brincar pode agir da mesma forma que a válvula de escape da panela de pressão, permitindo que o excesso de energia seja expelido. Se ao menos pudéssemos conseguir a distribuição justa e igual desta energia entre os adultos cansados do mundo!
            Você descobrirá que, quando contar ao seu filho histórias da Aninha relevantes ao seus problemas atuais, ele vai querer escutar essas histórias vez após vez. Não fique impaciente com essa repetição. As crianças precisam absorver os fatos, aprender a lidar com os sentimentos e dominar suas ansiedades.
            A magia do "era uma vez...": Qual é a mágica contida nas histórias e por que elas são reconfortantes e compelem as crianças pelo mundo afora?
            Todos nós como pais gostaríamos de ver nossos filhos levarem vidas de total segurança, livres dos temores extremos e ansiedades que às vezes nos afligem. E alguns de nós olhamos para a nossa infância através de um espelho cor de rosa, lembrando talvez da sensação de amor, risos, diversão e companheirismo. Tendemos a esquecer as vezes em que tivemos temores, raiva e ansiedade com relação a um mundo que não podemos controlar e um ambiente que é maior do que nós. Há os terrores noturnos, o bicho papão atrás da cama, as vezes em que nos separamos dos nossos pais, as batalhas com a vontade própria ao lutarmos pela independência, a raiva bem como o amor que os irmãos causam, a crueldade de outras crianças, a complexidade das tarefas de desenvolvimento que precisamos aprender. Observe qualquer criança aprendendo a andar e terá uma idéia do esforço e da coragem envolvidos. Até mesmo a criança mais feliz e segura passa por épocas de grande ansiedade, temor, raiva e um senso de isolamento. Porque, afinal de contas, ninguém pode fazer suas tarefas por ela. Mamãe pode estar por perto para ajudá-la a andar mas não pode andar por ela, e certamente não pode cair por ela. Para aprender a andar, a criança tem que aprender a cair e então, levantar-se e tentar novamente.
            Este tema é refletido em muitos contos de fadas. O jovem herói se lança na sua jornada e encontra vários obstáculos pelo caminho, os quais supera até seu sucesso final.
            O conto de fadas transmite a mensagem que embora a vida possa ser uma luta e as coisas que nos acontecem possam parecer injustas e fugir ao nosso controle, se continuarmos perseverando, eventualmente venceremos no final. Esta é uma lição tremendamente importante. A criança que não acredita na possibilidade de sucesso e resultados positivos, é a criança que desistirá da luta e nunca sucederá.
            As histórias da Aninha são como histórias personalizadas que acontecem no mundo real.
            Seu filho como um indivíduo: As crianças não são todas iguais e gostaria de enfatizar a importância de compreender e aceitar seu filho como um indivíduo. Não tente aplicar regras e prescrições genéricas só porque as leu num livro. Pense nelas primeiro e veja como aplicá-las ao seu filho em particular. Confie na sua intuição - afinal, é você que conhece melhor seu filho.
            Da mesma forma, quando estiver inventando as histórias da Aninha, baseie o estilo de personalidade da heroína ao do seu filho. Por exemplo, se sua filha for por natureza uma pessoa cautelosa, uma heroína que se lança em situações novas com gosto e abandono será alguém com quem será bem mais difícil para sua filha se identificar.
            Em vez de tentar fazer sua filha imitar a sua imagem - uma tarefa vã se as características básicas delas forem diferentes das suas - faz mais sentido parar e tentar compreender de onde ela está vindo. Quais são as maneiras naturais dela lidar com o mundo? Você pode ajudá-la a fortalecer e melhorar isso de maneiras que ela considere certas?
            A perspectiva do outro lado: A experiência de tentar compreender o mundo sob a perspectiva de outra pessoa é algo que não fazemos muito. Particularmente com relação aos nossos filhos, isso pode fazer uma diferença enorme na maneira que vemos a situação.
            É muito importante manter isso em mente quando contar as histórias da Aninha. Um incidente que talvez lhe pareça banal, pode ser uma experiência devastadora sob o ponto de vista de seu filho. Um tipo de comportamento que pode ser visto por um adulto como uma insolência maliciosa, pode ser vivida por uma criança como um passo crucial na sua luta em direção à independência com maturidade. Assim, os dois lados, ao verem somente seu ponto de vista, podem sentir-se profundamente injustiçados e mal interpretados. Talvez uma boa regra quando estiver lidando com as ansiedades e problemas de seu filho seja primeiro ouvir atentamente e tentar entender como ele se sente. Não faça julgamentos rápidos nem tire conclusões precipitadas - isto pode sabotar suas tentativas de auxílio antes de você começar.
            Imaginação: Os seres humanos têm uma capacidade altamente desenvolvida de visualizar e imaginar coisas - é uma das características que nos separa das outras espécies. A maioria de nós subestima tanto esta capacidade que nunca paramos para pensar a respeito. Ou para imaginar como seria o mundo sem imaginação.
            Imaginação pode ser definida como a capacidade de pensar e experimentar o mundo através do "olho da mente". Não está confinada aos poetas e pintores. Nós a usamos constantemente. Nas coisas mais simples, como fazer a compra semanal, devemos nos projetar no futuro e pensar sobre o que vamos precisar nos dias por vir. Sem imaginação, seríamos incapazes de fazer isso.
            De fato, estamos apenas começando a descobrir que ferramenta extraordinariamente poderosa a imaginação humana é.
            Nos laboratórios, os psicólogos têm mostrado que quando nos imaginamos correndo, por exemplo, os músculos das nossas pernas contraem-se como se estivessem sendo ativados, mesmo que estejamos sentados com nossos pés para o alto. Estudos têm mostrado que imaginar-se fazendo ginástica pode na verdade aumentar sua capacidade física. Talvez você já tenha notado nos Jogos Olímpicos os atletas de salto em altura, por exemplo, de pé com os olhos fechados antes de saltar, mexendo a cabeça e fazendo estranhas expressões faciais. O que eles estão fazendo na verdade é visualizando-se correndo e fazendo um salto perfeito.
            A imaginação pode produzir reações emocionais bem como psicológicas. Imaginar-se sentado ao lado de um riacho no campo pode produzir uma sensação de paz e daí por diante.
            Modelos: Copiar um modelo é na verdade aprender através de demonstração, e as pesquisas mostram que as crianças aprendem muito prontamente deste modo. O modelo representa uma maneira de lidar com o problema que a criança está vivendo no momento, e a criança aprende ao observar e mais tarde, imitar as ações do modelo. Isso pode ser uma demonstração da vida real ou pode ser uma cena imaginada pela criança. Quando a criança imagina outra pessoa agindo com sucesso, por exemplo, entrando na banheira e batendo na água feliz, isso se chama modelo dissimulado. Além disso, se o herói da história alcança sucesso no final, a criança mais provavelmente vai imitar as ações dele na vida real.

Como usar as histórias da Aninha
           
            Alguns pais com quem conversei sentem uma certa hesitação à princípio com a idéia de inventar uma história. Geralmente é bem mais fácil do que se pensa.
            Quando estiver criando sua própria história, use as anotações deste livro como guia.
            Pense sobre o problema que gerou a necessidade da história. Tente sintonizar em como seu filho se sente ao batalhar com este problema. Como deve parecer do ponto de vista dele? Então pense no resumo da sua história de antemão se conseguir. Que idéias você quer transmitir para seu filho? Que tipo de solução você gostaria que sua história sugerisse?

Seja simples: Quanto mais compreensão puder colocar em sua história, mais ela alcançará seu ouvinte. Não é necessário ser professor de psicologia para fazer isso. Linguagem simples e conceitos simples funcionam melhor. E se estiver realmente confuso quanto aos sentimentos da sua criança e simplesmente souber que ela tem um problema, algo como "Aninha se sentia tão mal..." ou "Aninha estava tão preocupada...", já será suficiente. Não se esqueça que sempre poderá convidar seu filho em qualquer altura da história para preencher as brechas dizendo: "E como você acha que a Aninha se sentiu então?"

            Ao criar sua história, lembre-se que você está simplesmente fazendo uma demarcação que reflete os problemas da criança e uma heroína que reflete os sentimentos dela. Os personagens, acontecimentos e cenários serão paralelos à sua vida, amigos, atividades e lar. Depois de montar a cena desta maneira, pode então deixar a heroína ir em frente para superar seus problemas ou encarar o que a está perturbando. As soluções que a heroína encontra não têm que ser muito complexas. Poderão ser soluções baseadas naquelas que você descobriu na sua própria vida. Estas soluções podem requerer que se aprenda novos métodos práticos ou sociais; descobrir consolo nos amigos e familiares; aprender que o tempo pode curar e daí por diante.
            Esteja sempre aberto ao contar a história. Repare quando seu filho está ligado e quando parece impaciente. Verá os sinais através na expressão dele se a história estiver atingindo seu objetivo. Isso também o ajudará conforme for tecendo sua história. Uma criança talvez se interesse muito nos detalhes das roupas da Aninha ao passo que outra fica cansada disso. Com esta reação instantânea, você achará cada vez mais fácil contar o tipo de histórias que se harmonizam com os interesses e necessidades de seu filho.
            Algumas crianças vão preferir ouvir as histórias quietinhas. Outras farão comentários ou perguntas. Não deixe de lado estes comentários nem perguntas; são todos parte do processo de contar histórias, muitas vezes lhe revelará muito sobre o pensamento do seu filho. Se tiver dificuldade em responder à pergunta, diga: "O que você acha?" Se a criança disser: "Não sei," e a pergunta parecer importante, diga algo tipo: "Por que não adivinhamos juntos o que ela estava fazendo lá..." (ou seja lá com que a pergunta estiver relacionada). Adivinhar é uma maneira excelente de descobrir as coisas.
            Não se preocupe se cometer erros. Você e sua história não têm que ser perfeitos. Ignore suas trapalhadas e, se perceber alguma gafe (geralmente pela expressão da criança), simplesmente corrija dizendo: "Ah, quase me esqueci, ela não foi sozinha, ela foi com uma amiga," ou seja o que for.
            Seu filho irá muitas vezes corrigi-lo com um olhar de compaixão que diz: "Coitada da mamãe, não consegue nem se lembrar direito de uma história." Isso não parece ofuscar nem a alegria nem o uso da história para ela, nem tampouco deveria para você.
            Aplicar as técnicas descritas: Se seu filho experimentar uma solução que talvez tenha sugerido numa história da Aninha e ela não funcionar, não entre em pânico. Primeiro, converse com ele sobre isso para poder descobrir exatamente o que ele fez, como fez e o que aconteceu. Isso lhe dará dicas sobre como projetar a próxima história da Aninha. Por exemplo, digamos que sua filha estivesse preocupada em fazer amigas. Você lhe contou uma história sobre uma menininha com um problema semelhante que tinha aprendido a dizer para suas colegas de classe: "Posso me juntar a vocês?" ou "Vocês querem brincar de bola comigo?" Sua filha pode ter voltado bem desanimada depois de ter experimentado isso e falhado.
            O que talvez descubra, no entanto, é que ela tentou somente com uma colega e depois desistiu. Neste caso, a História da Aninha que virá a seguir deveria ser sobre uma menininha que tentou isso, ficou muito decepcionada e então aprendeu que se não desistisse e talvez perguntasse a algumas coleguinhas diferentes, poderia se sair bem e conseguir alguém para brincar.
            Pode ser também que você realmente não tenha noção por que a técnica usada na história falhou. Neste caso, uma História da Aninha em que ela está decepcionada com seu fracasso mas mesmo assim resolve encontrar um meio de sair de seu dilema, pode ser apropriada. Você também pode centralizar no fato de que a Aninha e sua família ficaram muito orgulhosos dela por ter tentado, mesmo que tenha falhado.    
            As crianças geralmente formam audiências extremamente entusiasmadas. Elas adoram histórias e adoram passar tempo com você. A combinação dos dois é como um sorvete duplo com cobertura - insuperável!
            A seguir encontram-se algumas situações onde as histórias da Aninha poderão ser úteis, e algumas dicas de como direcioná-las a estas situações.

Pesadelos

            As pesquisas mostram que todas as pessoas normais sonham regularmente - geralmente quatro ou cinco vezes por noite. Antes de começar a história, eu gostaria de distinguir entre pesadelos e terrores noturnos.

            Um pesadelo é um sonho distinto. Uma criança assustada que acorda de um pesadelo será capaz de lhe dizer, "...tinha um gigante enorme e verde correndo atrás de mim e ele estava tentando me esmagar..., por exemplo.
            Terrores noturnos tratam-se de uma sensação de pânico mais extrema do que a geralmente causada por pesadelos. (Editor: Naturalmente que são ataques espirituais do Inimigo e precisam ser combatidos com muita oração e com a Palavra de Deus.)
            Console seus filhos, acaricie-os com carinho e fale gentilmente com eles. Permita-lhes voltar a dormir tranqüilamente assim que puderem. Estes ataques podem ocorrer mais freqüentemente quando a criança está debaixo de estresse, de forma que sempre vale à pena olhar este aspecto e ver se existem maneiras de aliviar tal estresse.
            Crianças muito pequenas ainda não conseguem distinguir entre fantasia e realidade. Elas acreditam que seus sonhos têm uma realidade concreta. Conforme vão crescendo, desenvolvem o entendimento de que os sonhos só ocorrem em nossas mentes.
            Uma luz de noite pode ser um grande consolo. Ter um brinquedo favorito para abraçar na cama também pode ser muito consolador. Os cobertores são muitas vezes algo particularmente importante para as crianças. Talvez elas dêem nomes ao seus cobertores favoritos, como Rosinha, e a segurança de se envolver na textura familiar oferece uma qualidade maravilhosamente calmante na hora de ir para a cama. Os travesseiros também são importantes. Todos já tivemos a experiência de lutar para adormecer com um travesseiro duro demais, cheio de caroços ou que incomoda de algum jeito.
            A hora de dormir é uma hora de intimidade especial para os pais e a criança. Pode ser o momento para conversar e escutar atentamente, para contar os acontecimentos do dia e dar ao seu filho a sensação de que é amado e estimado. Adormecer sentindo-se amado é uma sensação maravilhosa para todos nós.

Temores

            A dessensibilização trata-se de criar uma "escada" dos temores que se relacionam ao objeto ou à situação da qual seu filho tem medo. No começo da escada se encontra uma situação com a qual seu filho pode lidar confortavelmente e no alto está algo que o deixaria muito perturbado. Tratando-se de um medo de cachorro, por exemplo, no primeiro degrau poderia ser a foto de um cachorro num livro infantil, enquanto que no topo poderia ser a experiência de ter um cachorro pulando no seu colo. Entre estes dois degraus se encontram uma série de situações que se relacionam a cachorros e que vão desde um pequeno desconforto no início da escada até as que causam medo perto do topo.
            Ao usar a dessensibilização para ajudar a criança a perder o medo de cachorro, você a guiaria até o alto desta ladeira um degrau de cada vez, começando no primeiro. Sempre que ela começar a ficar ansiosa, ajude-a a relaxar, e então permita-lhe tentar aquele degrau novamente. Depois de algumas repetições do degrau seguidas de relaxamento, a criança será capaz de se sentir cada vez mais à vontade ao contemplar ou ter uma experiência naquele degrau da escada. Quando ela se sentir bem à vontade e relaxada com ele, poderá progredir para o próximo degrau.
            Comece com algo com o qual ela se sinta à vontade e então suba devagar. Elogie a criança a cada passo bem sucedido que tomar. Quanto mais competente ela se sentir, maior a confiança com que será capaz de encarar seus temores. Pode ser útil fazer um gráfico do progresso do seu filho. Cada passo bem sucedido pode ser marcado com uma estrela dourada; um símbolo bem concreto para seu filho.
            Ao ajudar a criança com seus temores, é importante que você transmita-lhe tanto verbalmente como não verbalmente que não existe nada intrinsecamente errado com os cachorros. Você, naturalmente, não deveria tentar fazer isso com ela se também tiver medo de cachorro! (Editor: É claro que muitos bons versículos sobre medo e fé irão atingir a raiz do problema.)
            Às vezes também, os temores das crianças podem ser prolongados porque elas são recompensadas por eles. Em outras palavras, talvez recebam muita atenção extra quando estão perturbadas que não recebem quando não estão assustadas.
            Isso não significa que você deveria punir a criança por chorar quando vê um cachorro. Console-a mas não faça um grande estardalhaço. Transmita-lhe que entende seus sentimentos, mas também que está confiante de que com o tempo ela será capaz de se sentir mais à vontade com os cachorros. Da mesma forma, não ria dos seus temores nem deixe-os para lá - eles são reais e sérios para ela.
            Muitos temores da infância parecem irracionais para os adultos mas são bem racionais para as crianças. O banho é um bom exemplo. Normalmente a criança de dois anos ainda não percebeu que seu corpo é grande demais para descer pelo ralo, e medo de tomar banho é uma reação muito compreensível. Os temores de algumas crianças são comuns para uma grande maioria de crianças e atingem um auge e desaparecem em diferentes idades. Outros são específicos de uma determinada criança. Alguns podem ser originados de um incidente específico, mas outros parecem surgir do nada. Também existe uma grande variedade, na intensidade destes temores, indo de um desconforto médio até o pânico.
            Dado que é normal que as crianças tenham vários temores, se estiverem impedindo o modo de viver ou a confiança da criança, e seu bem estar, vale à pena fazer algo a respeito deles. As histórias da Aninha são uma das maneiras de ajudar as crianças a superar temores.

Um novo bebê na família

            Para a maioria das crianças, a chegada de um irmãozinho anuncia o início de uma nova era. Significa o fim do seu reinado. A criança muitas vezes sente que está sendo empurrada para um canto para acomodar o mais novo e menor membro da família.
            É verdade que muitos irmãos compartilham laços profundos de amor e carinho que, ao crescerem, são um apoio e suporte notáveis uns para os outros, e que estes são laços que nunca serão quebrados.
            Contudo, muitos irmãos crescem numa atmosfera onde cada um é visto como um inimigo natural, onde a competição quer dizer sobrevivência e onde afeto e confiança são noções desconhecidas.
            Qual a razão disso? Ora, coloque-se só por um momento no lugar da criança.
            Você e seu marido possuem um casamento maravilhoso. Só têm olhos um para o outro. Vocês são a menina dos olhos um do outro. Vocês têm estado felizes e unicamente imersos em si mesmos por alguns anos e na sua mente continuarão assim até o fim de seus dias. Subitamente, numa noite, seu marido traz uma nova esposa para casa. Como você se sentiria?
            Muitas vezes, irmãos competem por espaço, possessões, realizações, identidade pessoal, amor e atenção dos pais. Talvez tenham personalidades totalmente diferentes - do tipo que nunca escolheriam para um amigo - mas são forçados a viverem juntos num relacionamento bem mais íntimo que o de amigos. Ainda que tentem, não existe escapatória deste relacionamento.
            Estabeleça a fundação para um bom relacionamento preparando seu filho cuidadosamente para o nascimento do irmãozinho. Não faça por exemplo, um quadro errado de que será um coleguinha para brincar instantâneo e não espere que a reação do seu filho ao novo bebê seja necessariamente a mesma que a sua. É comum as crianças mostrarem sinais de estresse nestas épocas. Talvez elas regridam com atitudes de bebês ou se tornem mais exigentes ou levadas.
            Quanto mais seguro seu filho se sentir do amor dos seus pais e de seu lugar especial na família, mais fácil será resolver os conflitos típicos entre irmãos. Se a criança for auto-confiante e confiar no interesse e amor de seus pais por ela, se sentirá menos ameaçada pela competição, ou seja, pelo irmãozinho. Mas se ela se sentir inferior, negligenciada ou mal amada, achará bem mais difícil tolerar as comparações constantes que tem que fazer entre seu destino e o de seu irmãozinho. Talvez lute ainda mais para conservar o pouco que sente possuir da atenção dos pais, ou talvez desista da luta e se retraia em depressão, mágoa ou auto censura.
            As crianças precisam saber que são amadas e valorizadas como indivíduos. Não precisam ser tratadas exatamente da mesma maneira - elas não são pessoas exatamente iguais. O que está certo para uma estará errado para a outra. Elas, porém, precisam sentir que cada uma é tratada com justiça.
            Embora os relacionamentos entre irmãos contenham sementes de emoções destrutivas, eles também podem oferecer os desafios que fazem com que as crianças resolvam seus conflitos e os superem através da criação de laços amorosos e duradouros. Eles podem ensinar-lhes a enfrentar os diversos obstáculos que a vida colocará no seu caminho, como perder, lutar e invejar, e como tornarem-se mais fortes ao enfrentá-los.
            Os pais podem ajudar através de algumas maneiras como dando a cada criança um senso firme e amoroso do seu lugar especial na família e nas suas afeições. Eles podem encorajar os pontos fortes e habilidades de cada criança em particular, sem compará-las entre si. As comparações incitam à rivalidade e à competição.
            os pais podem respeitar a necessidade que cada criança tem pelo seu espaço privado e suas possessões. Você não iria gostar se seu vizinho continuasse a sair com o seu carro, esquecendo-se de trazê-lo para casa, ou deixando os faróis acesos a noite inteira. Insista que as crianças peçam permissão antes de emprestar ou brincar com as possessões umas das outras. Isso evita que o proprietário se sinta sob ameaça constante de ser invadido e roubado.
            E por fim, especialmente no que diz respeito às crianças pequenas, o amor é muitas vezes considerado semelhante a uma torta de maçã. Sobra menos para elas quando um pedaço é dado a mais alguém. Se todos conseguirem se sentir seguros com sua parte da torta do amor e compreensão que é infinito, tudo o mais é bem mais fácil de superar.

Os primeiros dias no Jardim de Infância

            Entrar para a escola é uma ocasião especial para a maioria das crianças, o início de um mundo completamente novo. Como tudo mais, as crianças terão suas próprias reações diferentes, dependendo das suas personalidades e circunstâncias particulares.
            Para muitas crianças, entrar para a escola é um evento emocionante e muito esperado. E com certeza, estressante. Algumas vezes, se você prepara esse tipo de criança para a escola de uma maneira muito protetora, salientando por exemplo, que você ficará com ela por um tempo, ela pode começar a se perguntar o que há por trás disso e por que precisa de ser tão protegida. Com este tipo de criança, levá-la até a sala de aula, apresentá-la à nova professora e dizer um tchauzinho em tom alegre, deve ser tudo que você precisa fazer.
            Por outro lado, outro tipo de criança é a que leva tempo para se sentir confiante numa nova situação e geralmente responderá melhor se for se acostumando à idéia aos pouquinhos. Por isso, programar para ficar com ela por um certo tempo no primeiro dia, menos no segundo, menos ainda no terceiro, e daí por diante, pode ser a estratégia mais útil para se adotar. Isso permitirá à criança estabelecer sua confiança aos poucos.
            Para praticar, experimente deixar a criança com amigos, parentes ou babás por umas duas horas, bem antes da primeira vez que é deixada por você na escola. O primeiro dia no jardim de infância é muito mais traumático para a criança se ela nunca tiver se separado de você antes. Isso não significa que tenha que sumir e deixá-la por uma semana a fim de que ela se acostume, mas sim, deixá-la se acostumar a ficar longe de você por pequenos intervalos de tempo.
            Para muitas crianças, o jardim de infância é a primeira grande arena onde serão continuamente expostas a um grande número de colegas. Talvez elas tenham passado tempo com outras crianças antes, brincando em grupos, etc., mas aqui estarão com as mesmas crianças, num número relativamente grande da sua própria idade, por períodos extensos de tempo, dia após dia.
            Para algumas crianças é fácil encontrar uma posição dentro do grupo e sentirem-se em casa. Para outras, é mais difícil. Talvez o aspecto mais importante é que a criança esteja confortável com sua posição.
            Algumas crianças vão gostar de ter muitos amigos; outras estarão contentes com muito poucos. Isso não é uma sentença para toda vida de um infeliz mal ajustamento. Simplesmente significa que elas desfrutam mais de interesses solitários e são menos dependentes da companhia de outros.
            Contudo, muitas crianças sentem-se infelizes com a posição em que se encontram em relação a seus colegas. Muitas vezes, tais crianças acham que as pessoas não gostam delas. Às vezes, de fato, existe uma antipatia por elas, mas outras vezes, é algo imaginário. Seja qual for o caso, deve ser examinado. Converse com o professor de seu filho para ver se realmente existe alguma antipatia pelo seu filho. Descubra como a criança trata as outras. Ela é muito agressiva? Muito tímida? Conte-lhe a história da Aninha que for apropriada. Por exemplo, se seu filho estiver perdendo os amigos porque quer as coisas sempre à sua maneira, deixe Aninha descobrir maneiras novas e mais positivas de se relacionar com os colegas de classe. Faça uma atuação destas histórias da Aninha, sendo você a Aninha e a criança, seu colega de classe. Então, reverta os papéis. Tudo isso lhe dará modelos positivos a quem seguir, e ajudará a exercitar as técnicas de socialização.

Divórcio (Separação)

            Um divórcio coloca um estresse enorme em todos os envolvidos. As pessoas reagem com uma multidão de emoções - raiva, culpa, tristeza, medo, alívio, anseios. Embora um divórcio seja altamente traumatizante para a maioria das crianças, as pesquisas sugerem que, a longo prazo, não precisa necessariamente infligir um dano emocional permanente. É a história por detrás do divórcio que afeta a maneira como a criança se recupera deste evento doloroso.
            Reações das crianças ao divórcio: A maioria das crianças mostram sinais de estresse no primeiro ano e tal que segue-se a uma separação ou divórcio. Raiva, tristeza e confusão são os principais entre as emoções que elas possam vir a experimentar.
            As crianças podem sentir raiva de um ou dos dois pais, por não manterem a família unida. Talvez sintam raiva delas mesmas, achando que foi seu mal comportamento que levou mamãe e papai a se separarem, ou que falharam em fazer algo que os teria mantido juntos. Pode ser difícil para a criança lidar e expressar esses sentimentos de raiva. Por exemplo, ela talvez sinta que se mostrar sua raiva ao pai ou mãe com quem não vive, talvez seja totalmente rejeitada e perca até suas visitas. Semelhantemente, pode imaginar que se ficar muito zangada com o pai ou mãe com quem vive, também possa ser rejeitada por ele ou ela. Ela pode ficar assustada com a intensidade da sua raiva, temendo que, se deixar extravasar mesmo que só um pouquinho dela, se tornará incontrolável.
            Tristeza é um acompanhamento quase universal ao divórcio. Juntamente à tristeza, podem existir sentimentos de baixa auto estima e a criança pode se sentir deixada de lado. A criança pode sentir que não vale nada, que é má ou difícil de amar. Ela pode sentir que não consegue fazer nada direito.
            Às vezes, a tristeza de uma criança pode tomar a forma de um alheiamento passivo à vida. Talvez fique se lastimando, sem interesse pela escola, por seus amigos ou qualquer das outras coisas que costumava gostar.
            Ela pode ficar chorona e chorar por coisas que nunca costumavam perturbá-la. Pode desenvolver novamente temores como medo do escuro, que já tinha superado antes, ou talvez regrida de outras maneiras. Por exemplo, se já tiver aprendido a usar o vaso, pode ser que volte a molhar as calças. Poderá exigir atenção extra e achar difícil tolerar as separações normais da vida, como ir para a escola. Poderá aparecer sintomas físicos, como dor de barriga ou problemas de concentração na escola.
            No meio do caos de um divórcio, também é comum que a criança se sinta perdida e esquecida. Muitas vezes os pais estão tendo dificuldade de lidar com seus próprios sentimentos e têm pouca energia emocional para dispensar ao filho. Isso assusta muito a criança e ela pode redobrar freneticamente suas tentativas para receber atenção - e no final apenas ser considerada chorona ou mal criada.
            Também se sentirá freqüentemente confusa, uma presa de sentimentos conflituosos. Às vezes se sentirá aliviada com a idéia de que a briga acabará quando o papai se mudar e ao mesmo tempo, desejar dolorosamente que ele ficasse. É difícil para ela olhar para o futuro e compreender a finalidade do divórcio. As crianças pequenas têm dificuldade em compreender a próxima semana, muito menos o próximo mês ou ano. Ela pode ficar confusa sobre o que causou o divórcio e qual será o novo relacionamento com seus pais. Poderá se sentir dividida entre seus pais, alternadamente zangada e implorando, sem certeza de quem é a culpa, ou se é de alguém afinal. Poderá se perguntar como ou se contará a seus amigos, professores e outras pessoas da sua vida. No geral, provavelmente também se sentirá, em meio a dor e medo, desesperançada. Este pode vir a ser o evento mais excruciante e avassalador da sua vida até agora, e não existe nada que ela possa fazer a respeito.

Temores e fantasias das crianças: Talvez o temor mais evidente que uma criança que está atravessando um divórcio sinta, seja o de ser abandonada. Com o divórcio, todas as fantasias da criança sobre ser abandonada parecem se tornar realidade. É muito importante assegurar seu filho de que ele não será abandonado. E provavelmente, isso terá que ser repetido freqüentemente. As situações cotidianas como ficar em casa com a babá, pode reacender o medo que você nunca mais voltará.
            Freqüentemente as crianças fantasiam que a culpa pelo divórcio foi delas. Uma criança pode sentir que foi seu mau comportamento que fez o papai ir embora de casa. Ou poderá sentir que seu mau comportamento fez a mamãe e o papai discutirem tanto que os levou a se separarem.
            Paralelamente ao sentimento de culpa da criança pela separação dos pais, está a fantasia igualmente comum de que existe algo que ela pode fazer para voltar a juntá-los. Um grande número de crianças tentam todo tipo de táticas para reunir sua família. Uma criança pode pensar que se for muito boazinha, o papai voltará para casa. Ou que se for muito má, seus pais precisarão ficar juntos para se aconselharem entre si sobre seu comportamento. Talvez ela sinta que se ficar doente, o papai vai ter que voltar para casa. Durante muito tempo depois que o divórcio foi finalizado, as crianças quase que invariavelmente sustentam a fantasia de que sua mãe e pai vão voltar a ficar juntos.
            As crianças também temem, não somente o seu próprio bem estar, mas o de seus pais. Elas podem se preocupar com o "coitado do papai" sozinho no seu apartamento e tendo que se virar sozinho. Ou podem se preocupar com a mamãe, que parece tão triste e cansada com seu fardo extra. Podem se preocupar com questões financeiras - preocupações que podem ser alimentadas por comentários dos pais do tipo: "Ela tirou cada último centavo meu", e "Nunca vamos poder viver com o dinheiro que ele nos dá."
            Esses temores e fantasias são comuns para muitas crianças, mas também é uma boa idéia perguntar ao seu próprio filho quais são os seus temores com relação ao divórcio.

Como contar às crianças: Sempre que possível, dê a notícia sobre a separação antes de você ou seu esposo terem saído de casa. Isso dará tempo ao seu filho para pensar nas notícias, superar o choque inicial e conversar com vocês dois sobre o que tudo significa para ele. As crianças precisam ter repetidas oportunidades com ambos os pais para fazerem perguntas e falar sobre seus sentimentos. Elas precisam de tempo para digerir a nova situação e voltar a falar sobre ela. Não espere que uma única conversa de coração para coração tome conta de tudo.
            Quando estiver explicando o divórcio, também certifique-se que sua explicação é expressa em termos que a criança possa entender. Pesquisas mostram que um número surpreendente de crianças ou não receberam uma explicação sobre o divórcio, ou receberam algo que estava além da sua compreensão. As crianças que receberam uma explicação que podiam entender, passaram bem melhor emocionalmente do que as outras. Crianças deixadas no escuro, foram forçadas a uma busca desesperada por vestígios e significados, no seu esforço para encontrar sentido no mundo em que agora se encontravam.
            Quando falar para seu filho sobre o divórcio, é importante enfatizar que, embora os parceiros de um casamento possam se divorciar, os pais não podem se divorciar das crianças. Deixe bem claro que você sempre será seu pai ou sua mãe e estará cuidará dele.
            Quando um dos pais abandonar ou não quiser contato com uma criança, é importante deixá-la saber que o problema está com aquele pai ou mãe. As crianças muitas vezes pensam que o fato de serem "más" ou sem valor, é a razão pela qual um dos pais a abandonou. Explique à criança que tal pai ou mãe simplesmente não era crescido o suficiente para ser pai ou mãe, ou tinha muitos problemas para ser capaz de cuidar do filho adequadamente.
            No geral, quando contar a uma criança sobre uma separação ou divórcio pendente, permita-lhe saber que isso não é culpa dela; ela não fez nada para causá-lo, não podia ter feito nada para impedi-lo e não pode voltar a unir os pais.
            Quando conversar com seu filho sobre divórcio, vale à pena reconhecer que é um processo difícil de se passar, mas assegure-o que você o fará. Com muita freqüência, os pais fazem comentários como: "As coisas serão melhores depois do divórcio," quando na verdade geralmente leva algum tempo para a melhora esperada ocorrer. As crianças então se tornam confusas e desconfiadas, quando vêem que as coisas estão de fato piores, imediatamente após o divórcio.

Problemas e obstáculos: Um dos maiores obstáculos sobre o divórcio é que, por ser uma época tão avassaladora e dolorosa para os pais, eles podem ter pouca energia emocional de sobra para seus filhos. Assim, a criança pode se sentir abandonada por ambos os pais, não somente pelo que está partindo.
            Por outro lado, durante este período, os pais muitas vezes se vêem compelidos a cair na armadilha exaustiva da competição pela afeição e lealdade da criança. Eles podem se engajar numa guerra para fazer a criança escolher entre eles.
            Embora a maioria das crianças adorem os presentes e os circos, no final o que mais desejam é passar simplesmente tempo com você - um tempo para lhe contar o que aconteceu na escola, por exemplo, no que você deixa a louça para lhe fazer companhia.
            As visitas muitas vezes trazem emoções conflituosas, e a transição de um dos pais para o outro, é geralmente um período particularmente delicado para a criança. Ela pode ter antecipado a visita por dias com muita e até dolorosa empolgação. Então, quando chega o dia, pode subitamente ficar com medo de deixar aquele(a) com quem vive. E se a mamãe não estiver lá quando ela voltar? E se a mamãe ficar doente enquanto ela estiver fora, ou ficar triste e solitária sem ela? E se ela ficar assustada com o ambiente pouco familiar do novo apartamento do papai? Os pais também estão muitas vezes sentindo emoções mistas. Quem vive com a criança pode se sentir feliz pela folga de ter que cuidar da criança, mas triste ou preocupado em vê-la partir. Quem não vive com a criança pode se sentir confuso ou magoado em ver seu filho se retrair e, aos seus olhos, obviamente hesitante com relação à visita.
            Todas as crianças terão maiores necessidades emocionais durante este período - talvez precisarão de um carinho e consolo extras, ou chorem à toa ou fiquem muito agarradas. As pesquisas têm mostrado que as meninas tendem a serem mais satisfatoriamente atendidas nas suas necessidades de dependência do que os meninos. Os pais têm a tendência de não fazer tanto carinho nos meninos, e têm menos tolerância a tais sinais de dependência como ficar agarrado ou chorar muito. Você não vai estragar seu filho por paparicá-lo e atender suas necessidades de atenção extra durante este período. Simplesmente o capacitará a sentir-se mais seguro e portanto, mais capaz de superar este fase difícil.

O que você pode fazer para facilitar as coisas: Talvez o mais importante a fazer pelo seu filho durante esta época extremamente difícil, é dar-lhe permissão para estar próximo de ambos os pais. Não tente forçá-lo a escolher entre vocês ou fazê-lo sentir que lhe está sendo desleal quando responder positivamente ao outro. A maioria das crianças quer um relacionamento contínuo e íntimo com ambos os pais. A maioria das crianças ama ambos os pais apesar de suas faltas. A coisa mais amorosa a fazer pelo seu filho é reconhecer que ele tem seus próprios sentimentos quanto ao seu ex-cônjuge e que tais sentimentos não têm que coincidir com os seus.
            Os períodos de transição antes e depois das visitas são muitas vezes momentos de tensão extra para a criança. Você pode ajudar dizendo que ela está livre para desfrutar de seu tempo com o papai sem que você se sinta magoada ou chateada com isso.
            Assegure-a que você estará bem enquanto ela estiver fora e que estará lá para recebê-la de volta outra vez.
            Durante e depois de um divórcio, o pai ou mãe que tem custódia dos filhos, muitas vezes se vê correndo freneticamente com uma montanha de trabalho extra. Acrescenta-se às suas horas extras de trabalho a preocupação, pressão e esgotamento emocional geral experimentado por aqueles que passam por um divórcio. Isso significa que num momento quando a criança mais precisa de você, na verdade, ela estará recebendo menos de você. Enquanto você tenta fazer inúmeras coisas ao mesmo tempo bem como atender ao pedido da criança por atenção, é fácil se deixar cair numa situação que lembra a Bruxa Má. Uma maneira de ajudar a aliviar esta situação é separar um tempo especial só para você e a criança, digamos, uma meia hora cada noite. Este será um tempo em que você pode simplesmente se sentar com a criança, ler histórias, brincar alguns jogos, falar sobre o dia, e o que é mais importante, alimentar a auto estima dela. Abrace-a, beije-a, fale sobre os talentos especiais dela, como você está orgulhosa dela e daí por diante. Que este seja um tempo para se certificar de que seu filho se sente amado e apreciado.
            A disciplina é uma das coisas que muitas vezes depois de um divórcio perde-se o controle. Mas uma boa disciplina, justa, consistente e estável, é uma das coisas que as crianças, e especialmente crianças que estejam num caos, mais precisam. Existem muitas razões pelas quais a disciplina tende a se dissolver nas famílias divorciadas. Algumas vezes é porque o pai era aquele que aplicava a disciplina dentro da família, e na sua ausência, a mãe pode estar lutando com um novo papel com o qual não está familiarizada. Às vezes o pai, no seu novo papel externo, deixa de disciplinar a criança por medo que esta o rejeite, ou porque quer ganhar um favor extra com a criança. Freqüentemente, ambos os pais estão tão preocupados com seus próprios problemas, que a disciplina se torna como um caso amoroso que vai e volta. Às vezes eles deixam a criança fazer coisas que normalmente não permitiriam como um tipo de compensação pelo divórcio ou porque não podem tolerar a reprovação ou lágrimas da criança.
            As crianças neste estágio muitas vezes parecem se opor à disciplina de qualquer forma que puderem - quebrando as regras, sendo malcriadas ou insolentes. Por vezes esta é sua maneira de deixar escapar a raiva que sentem pelo divórcio. Freqüentemente é sua maneira de testar os limites - ver quão longe poderão chegar antes dos pais realmente as rejeitarem, ou descobrir o nível de segurança do controle de seus pais. O melhor a fazer é reassegurar sua criança que você está compromissado a amá-la e cuidar dela não importa quão mal-comportada ela seja às vezes.
            Finalmente, perceba que recuperar-se de um divórcio leva tempo. É tolo esperar que todos estarão perfeitamente ajustados à nova situação no primeiro dia. Cada membro da família está destinado a passar por altos e baixos emocionalmente por algum tempo, conforme for superando os traumas, a dor e a confusão, até sua eventual resolução.

Quando morre alguém

            A morte é uma parte natural da vida. As crianças se defrontam com a morte de várias maneiras - um inseto morto ou um passarinho na calçada, a morte de um bichinho de estimação e daí por diante. Todavia, muitas vezes tentamos protegê-las da realidade da morte. Muitos pais já saíram correndo para a loja, buscando desesperadamente um bichinho para substituir o que partiu para a Fazenda nas Alturas, antes da criança perceber. A oportunidade de observar, aprender e compreender a morte de uma maneira significativa é desperdiçada. A morte e a perda são sempre dolorosas, mas fingir que não existem não as torna menos dolorosas. Os animais morrem, você fica triste, recupera-se e depois de um tempo, sente-se pronto para cuidar de um novo bichinho.
            Ao explicar a morte para uma criança pequena, não iguale a morte a ir dormir. Crianças pequenas podem ficar com medo de dormir caso isto signifique que é assim que se morre.
            Enfatize que o fato de simplesmente ficar doente, não leva à morte. Um frase como: "Ela adoeceu e morreu," pode fazer com que uma criança impressionada suponha que qualquer tipo de doença pode levar à morte. Ela pode ficar com um medo tremendo de ficar doente ou de ver outras pessoas doentes.
            Muitos dos termos que usamos para descrever a morte podem ser muito confusos para as crianças pequenas, que os tomam literalmente. Às vezes em vez de dizer, "a Maria morreu ontem à noite", dizemos, "perdemos a Maria ontem à noite." Isso é muito angustiante para a criança que toma a coisa ao pé da letra. "Se você perdeu a Maria, por que não a está procurando? Você não quer encontrá-la de novo?" Expressões como: "Não está mais conosco", "partiu" e daí por diante, podem ser igualmente confusas. É melhor ser claro e direto na linguagem que usa para falar sobre a morte com as crianças. (Editor: Graças a Deus podemos ensinar-lhes todas as coisas maravilhosas que a Palavra de Deus tem a dizer sobre o Céu .)
            Às vezes, as crianças podem se sentir extremamente culpadas em relação a uma morte. Se elas brigaram ou estavam com raiva de tal pessoa, podem acreditar que sua raiva fez a pessoa morrer.
            Elas podem ficar abertamente triste e chorar ou se retraírem silenciosamente. Elas às vezes acham difícil verbalizar o sentimento vazio de perda e podem descrevê-lo como enfado. Talvez expressem sua aflição de forma não verbal, molhando a cama, tendo pesadelos, problemas de comportamento e daí por diante.
            Podem sentir muita raiva pelo falecido por lhes ter abandonado. Podem temer serem abandonadas novamente pelas pessoas importantes de sua vida, e podem tornar-se muito agarradas e entrar em pânico com a idéia de uma separação. Elas precisam ser consoladas de que seus sentimentos são normais e terem seus temores amenizados.
            Fazer algo carinhoso para a pessoa que está morrendo pode ajudar uma criança a dizer um adeus amoroso. Ela poderá sentir que foi capaz de dar algo a pessoa que ama.
            Relembrar a pessoa morta é parte saudável do processo de lamentar. Geralmente precisamos falar e pensar sobre o assunto, sentir a dor por algo, antes de estarmos prontos para nos conformarmos de forma sadia.
            Você pode compartilhar sua tristeza com a criança também. Ela pode ficar confusa se você não demonstrar nenhuma tristeza aparente pela morte de alguém próximo a vocês. Mas certifique-se de transmitir-lhe que você está triste pela perda da pessoa, e não por algo que ela, a criança, tenha feito.
            Quando conversar sobre a morte com seu filho, é importante que sua explicação sobre a morte e o Céu seja apoiada pela linguagem corporal e outras formas de comunicação. Em outras palavras, que continue a falar com fé sobre como a pessoa amada está feliz agora.

Relaxar

            Todos nós precisamos relaxar. Alguns de nós temos facilidade para tal enquanto outros têm mais dificuldade. As crianças são iguais. Quando relaxamos, quase tudo fica melhor e transcorre mais tranqüilamente. Trabalhamos melhor, brincamos com mais contentamento, nos sentimos mais saudáveis, dormimos mais facilmente e, no geral, funcionamos num nível significativamente mais agradável.
            As crianças se beneficiam da descontração quando estão estressadas, excessivamente cansadas, frustradas, preocupadas, excitadas demais ou quando simplesmente se sentem com vontade de descontrair. E, da mesma forma que os adultos, muitas delas precisam ser ensinadas a relaxar ou serem lembradas de quando o fazer.
            Ensinar a descontrair por meio de histórias é uma maneira especialmente agradável de ensinar, tanto para a criança como para a pessoa que conta histórias.
            Algumas táticas de relaxamento que talvez queira tentar incluem por exemplo, a fantasia de virar uma boneca de pano. Existe uma vasta gama de outras fantasias para relaxamento que poderia usar com a criança e tecer nas suas histórias.
            Quando descrever estas cenas de relaxamento, como um passeio na praia ou no campo, enriqueça-as o máximo possível com detalhes para que a imaginação seja bem vívida e real. Sempre que possível, descreva sensações, barulhos, cheiros e gostos da cena, bem como o visual. Estas dimensões descritivas extras acrescentam à vitalidade e intensidade da experiência.

Lidando com a dor

            Para a maiorias de nós, a dor é um evento transitório. Cortamos o dedo ou tomamos uma vacina, sentimos dor, lidamos com ela segundo nossa própria característica e não pensamos mais nisso. Nada poderia ser mais simples, achamos.
            Na realidade, a dor está longe de ser algo simples. É um fenômeno complexo que todos vivenciam de forma um pouco diferente uns dos outros e reagem individualmente. Não somente varia a sensação de pessoa para pessoa, mas para cada uma, a mesma dor pode ser vivida diferentemente dependendo do seu contexto.
            Por exemplo, uma pessoa relaxada ou absorvida se incomoda menos com a dor do que uma pessoa tensa ou deprimida.
            Podemos descrever a experiência da dor em termos não somente de quanta dor sentimos, mas também de quanta dor está nos incomodando ou quanto sofrimento está nos causando. Uma pequena dor que muito nos aflige, geralmente é uma experiência mais difícil de se lidar do que uma dor mais severa que, por alguma razão, não nos incomoda tanto. O significado da dor pode afetar o grau de sofrimento.
            Por exemplo, uma pequena pontada que achamos indicar um câncer causa muito mais aflição do que uma queimadura de sol feia, mesmo que o nível de dor causado pela queimadura seja bem mais severo do que a pontada considerada câncer.
            Outro componente na nossa reação à dor é nossa sensação sobre o poder que temos de fazer algo a respeito. Se sentimos que não há nada a fazer para mudar ou aliviar a dor ou ficarmos mais confortáveis, muitas vezes sentiremos mais "dor" ou angústia.
            A experiência da dor está aberta a mudanças de acordo com nossas atitudes. A maioria de nós simplesmente não aprendeu como fazer isso. Achamos que a dor, por ter uma causa física, é um fator estabelecido que não pode ser mudado. De fato, embora a dor surja de uma causa física, nós a sentimos de uma maneira psicológica, isto é, através da nossa mente. É isso que torna a dor algo maleável.
            As crianças muitas vezes têm este talento particular de usar o poder de sua mente para lidar com a dor.
            Dor antecipada: As técnicas se tratam de imaginar por exemplo, frio, entorpecimento e que o interruptor da nossa mente para dor está desligado. Existem muitas, muitas imagens úteis que podem ser eficazes em controlar a dor. As mais valiosas entre elas virão provavelmente do seu filho. Sinta-se à vontade para lhe perguntar que métodos a criança gostaria de usar para ter certeza que a dor não a incomodará. Uma vez que tenham pego o objetivo geral do exercício, as crianças geralmente aparecem com idéias maravilhosas e as acham muito divertidas.
            É também importante manter uma atitude de confiança e comunicar isso a seu filho. Se o primeiro método que usar não funcionar, não se intimide; tente outro. Se nenhum dos métodos funcionar, simplesmente diga calmamente e com confiança que estes métodos requerem algum tempo e prática para começar a funcionar, e agora que sua filha começou, o cérebro dela pode aprender a ficar cada vez melhor em desligar a dor, e talvez até encontre seu próprio método que você ainda não tenha mencionado.

Dor crônica ou dor que já esteja presente: (Editor: Em primeiro lugar, ore por cura.) Quando sua criança está sentindo dor, você deve sempre checar que não há nada fisicamente errado com ela. A dor é um sinal de alerta para o fato de que algo precisa ser consertado.
            A dor também pode ser sentida como resultado de estresse ou outros fatores psicológicos. Um exemplo típico é uma dor de cabeça por causa de tensão. Se tais eventos são comuns, tente descobrir por que a criança está se sentindo tão afligida. O que está acontecendo na sua vida que está causando estas dores de cabeça? Você também pode ajudá-la a usar métodos de relaxamento e controle da dor como modo para lidar com a tensão e para aliviá-la do estresse extra da dor que está sentindo.

Ir para o hospital

            Ficar num hospital é no geral uma experiência assustadora e esgotante para crianças pequenas. Portanto é melhor ficar com elas e não deixá-las sozinhas, sempre que possível. Para muitas, não significa somente uma separação dos seus pais e tudo que lhes é querido e familiar, mas também uma série de procedimentos médicos intrusivos e muitas vezes dolorosos.
            É vital assegurar à criança que você não a está abandonando. Se, por alguma razão, for impossível para você ficar constantemente com ela, diga-lhe quando estará visitando e por quanto tempo. Não diga que estará com ela nas horas em que não estará. Explique as regras de visitação do hospital para ela e lhe informe onde estará e o que estará fazendo naquele dia. Também certifique-se de visitá-la no horário prometido. Falhar a uma visita, freqüentemente causa uma grande angústia para as crianças. Se alguém mais estiver ficando com ela, é uma boa idéia deixar bilhetinhos ou presentinhos para serem abertos na sua ausência. Isso reafirma à criança que você ainda está pensando nela. Se puder, faça uma gravação em fita da sua voz lendo as histórias favoritas dela, para que ela possa escutá-las no hospital. Dê-lhe um lenço com seu perfume para que ela possa cheirá-lo e sentir-se confortada pela sua presença, ainda que em parte.
            Prepare-a para o hospital dizendo-lhe de antemão, tanto quanto possível, sobre o que lhe acontecerá, como será o ambiente, que tipo de pessoas ela vai encontrar, e que tipo de procedimentos médicos provavelmente acontecerão. Não lhe diga que os procedimentos ou exames não vão doer, se este não for o caso. Enfatize, no entanto, que não vai doer muito e isso a ajudará a ficar melhor.
            Toda esta informação ajuda a criança a lidar melhor com o que pode ser uma experiência desnorteante e avassaladora. Todos nos sentimos mais seguros com um mapa da estrada ao dirigir por locais desconhecidos.

Gravura:
            Você se sente melhor agora?
            Mapa (Caminho para o Hospital)

            Muitas crianças se sentem sozinhas, com saudades de casa e com medo no hospital. Informe seu filho que estes sentimentos são normais e que você os compreende, mas também conforte-o de que cuidarão bem dele. Dizer: "Sei que você está assustado, mas vão cuidar bem de você...", é bem diferente de dizer: "Você não devia ficar assustado: vão cuidar bem de você..." Dizer às pessoas que elas não deveriam sentir algo, raramente as faz parar de senti-lo; geralmente as faz se sentir mau ou inadequadas, de modo que têm que lutar contra aquilo bem como com o sentimento anterior.
            "Brincar de hospital" pode ajudar muito ao permitir que a criança trabalhe nos seus sentimentos sobre o hospital. Você pode improvisar usando materiais comuns em casa - um canudo transparente pode ser um termômetro e uma camisa branca, a roupa do médico. Creions e materiais de desenho também ajudarão.
            (Editor: Este método de contar histórias é destinado a crianças pequenas de até cinco ou seis anos, dependendo da criança. Você poderia usar o exemplo de história a seguir como base e modificar de acordo com quaisquer necessidades que seu filho tenha:)

Um novo neném!
- Exemplo de história

            Aninha era uma menininha que morava numa casa de paredes brancas com sua mamãe e papai, tios e tias.
            Um dia, quando Aninha e sua família estavam jantando, sua mamãe lhe disse:
            - Tenho notícias para você, Aninha. Nós vamos ter um novo neném na família em alguns meses.
            - Oh! - disse Aninha. Ela não sabia muito bem o que dizer. - De onde ele vai vir? - perguntou.
            Ela achou que talvez a mamãe queria dizer que iriam pegar um neném emprestado em algum lugar, ou que talvez alguma amiga tinha pedido para cuidar de um por um tempo.
            O papai riu.
            - Está na barriga da mamãe, Aninha. Vai ser o bebê da nossa família, um irmãozinho ou irmãzinha para você.
            Aninha olhou para a barriga da mãe. Parecia bem normal, talvez um pouco mais gordinha do que o normal, mas com certeza não parecia ter um neném inteiro lá dentro.
            - Por que tenho que ter um irmão ou irmã? - perguntou ela. - Gosto do jeito que é agora.
            - Sua mãe e eu achamos que é bom ter irmãos numa família. O Senhor nos deu um novo neném da mesma forma que Ele nos deu você.
            No dia seguinte Aninha estava conversando com sua amiga Alice.
            - Minha mãe vai ter um neném - disse ela.
            - Nosso neném tem um mês agora - disse Alice.
            Aninha concordou. Ela sabia que a mãe da Alice tinha acabado de ter uma menininha.
            - Eles me disseram que iam me dar um irmãozinho ou irmãzinha para brincar comigo - disse Alice. - Eu estava esperando muito por isso. Até fiz um presente para ela. Mas os neném novos não brincam direito com você, - disse ela chateada, - eles só choram muito e sujam as calças.
            Aninha se preocupou. Quando chegou em casa naquele dia, ela disse:
            - Eu achei que os nenéns eram para brincar com a gente. Alice disse que eles não brincam.
            - Você está meio chateada com isso, não está, Aninha? - disse sua mãe. - Venha aqui, sente-se no meu colo e vamos falar sobre isso.
            - Sabe, muitas crianças ficam chateadas quando chega um neném em casa. Às vezes elas acham que o bebê vai tomar o lugar delas e seus pais não vão mais ligar para elas. Elas podem ficar com ciúmes porque às vezes as pessoas dão mais atenção ao neném e não dão mais tanta atenção para elas. Elas acham que sua mãe e pai tiraram um pouco do amor que lhes dão e em vez disso, o deram para o neném. Isso as faz se sentir muito infelizes.
            - Mas isso não é verdade? - perguntou Aninha. Ela tinha uma sensação horrível na barriga. Ela não queria que sua mãe e pai tirassem nenhum amor dela.
            - Não é realmente verdade, - disse sua mãe. - Sabe, as crianças têm a tendência de achar que o amor é uma grande torta de maçã saborosa.
            Aninha concordou. Ela adorava torta de maçã.
            Sua mãe continuou:
            - Elas acham que se duas pessoas dividirem a torta, então cada uma ganhará menos do que uma torta inteira. Às vezes, elas ficam com muitos ciúmes esperando para ver quem ganha uma parte maior da torta porque acham que isso significa que, se alguém ganhar a metade maior elas vão ficar com a metade menor.
            - Mas uma das metades não deve ser maior do que a outra, - disse Aninha se sentindo importante. - Metades deveriam ser exatamente do mesmo tamanho. A professora nos disse isso semana passada.
            - Você tem razão, Aninha - disse sua mãe. - Eu deveria ter dito pedaço" em vez de metade. As crianças acham que se outra pessoa fica com um pedaço maior, então isso significa que elas ficam com o pedaço menor. Mas estão erradas.
            - Erradas? - disse Aninha. Ela estava surpresa. O que sua mãe tinha dito parecia muito razoável para ela.
            - É, - disse a mãe da Aninha - estão erradas porque o amor não é um pedaço de torta. É bem diferente. O amor nunca se esgota, e quanto mais ama as pessoas, mais amor tem sobrando para lhes dar. Pense na maneira como você ama o papai e eu. Você não me ama menos porque também ama o papai, e não ama menos o papai porque também me ama.
            - Não, - disse Aninha - você tem razão. Eu amo você e papai tanto quanto posso. - Ela se perguntou por que não tinha pensado naquilo antes.
            Sua mãe acrescentou:
            - E quanto o neném vier, ainda amaremos você da mesma maneira que antes, apesar de amarmos o neném também.
            - Que bom! - Disse Aninha. Ela se sentiu um pouco melhor ao ouvir sua mãe dizer aquilo.
            - Onde você acha que seria um bom lugar para o neném dormir? - perguntou sua mãe. - Estávamos pensando em tirar algumas coisas do quarto para o neném ter um cantinho especial. Talvez precisaremos pintar e conseguir algumas coisas para colocar nele.
            - Que tipo de coisas? - perguntou Aninha.
            - Um moisés para o neném dormir, uns pôsteres coloridos e talvez um móbile pendurado para o neném poder olhar.
            - Isso parece muitas coisas - disse Aninha. - Posso ganhar algumas coisas para o meu quarto também?
            - É, são muitas coisas, - disse a mãe da Aninha - mas os bebês precisam de muito equipamento como um moisés, carrinho, etc. Quando você nasceu, compramos muitas coisas para você. Depois que ficou mais velha, não precisávamos daquilo e demos para outros.
            - Ah! - disse Aninha. Ela não sabia que tinha tido tantas coisas quando neném.
            Continuou a mãe:
            - Estava pensando... Talvez você e eu pudéssemos fazer uns móbiles juntas. Pensei, se você gostar, que podemos fazer dois móbiles, um para você e outro para o neném. Você pode escolher o que quiser.
            Aninha balançou a cabeça. Ela adorava fazer coisas com sua mãe.
            - Parece ótimo. Quando vamos começar?
            Olha, - disse a mãe - o neném ainda vai demorar para chegar, mas podemos começar a fazer os móbiles este fim de semana, se você quiser.
            - Ótimo! - disse a Aninha. Ela ansiava por aquela hora.
            - Temos que decidir as cores do cantinho do neném - disse a mãe da Aninha. - Você gostaria de ir conosco à loja de tinta e nos ajudar a escolher as cores?
            - Gostaria, sim. - disse Aninha. Parecia divertido. - Sou muito boa em escolher cores para minhas bonecas quando faço casas para elas.
            No dia seguinte Aninha perguntou:
            - Mamãe, pode me explicar como nascem os nenéns?
            - Olha, - disse sua mãe - geralmente, quando é hora dos nenéns nascerem, a mãe vai para o hospital e os médicos e enfermeiras cuidam dela lá até o neném sair e estar pronto para ir para casa.
            - Ah, você vai ter que ir para o hospital?
            - Vou, mas só por uns dias.
            - Posso ir também? - perguntou Aninha. Ela não queria que sua mãe fosse embora sem ela.
            - Adoraria ter você comigo, - disse a mãe da Aninha - porque vou sentir saudades, mas o hospital não ia ter lugar para você. Então, você vai ter que ficar em casa. O papai vai ficar aqui para cuidar de você e ele vai cuidar especialmente de você, e também suas tias e tios.
            - Você não vai sem me dizer, não é? - perguntou Aninha.
            - Claro que não. Pode ter certeza que lhe digo antes de ir.
            - Ah, bom. Quando você vai para o hospital?
            - Só daqui a uns meses - disse sua mãe. - Eu lhe direi quando estiver chegando a hora, não se preocupe.
            Com o passar do tempo, Aninha viu que a barriga de sua mãe estava ficando cada vez maior. Sua mãe mostrou-lhe gravuras de um livro sobre como os nenéns crescem. Aninha achava que eles pareciam meio engraçados. Ela achava difícil acreditar que tivesse sido assim quando pequena.
            Certo dia, quando a mãe da Aninha estava lendo uma história para ela, ela pegou a mão da Aninha de repente e colocou em cima da sua barriga.
            - Sente só, - disse ela. - O bebê está chutando.
            Aninha ficou impressionada. Era uma sensação engraçada, como se alguém estivesse empurrando debaixo de um edredom. Ela disse:
            - Puxa!
            Pela primeira vez ela estava realmente percebendo que havia um neném real e vivo lá dentro.
            - Como o neném respira? - perguntou. - Ele não fica esmagado? E deve ser muito escuro na sua barriga.
            Sua mãe explicou:
            - O neném não respira da maneira que você e eu respiramos, Aninha. E tem espaço suficiente para ser bem confortável para ele. Quando o neném ficar grande demais para a minha barriga, ele sairá. Acho que é escuro dentro das barrigas, mas os nenéns não se importam. E você pode falar com ele e ele vai escutar você, mesmo que não possa responder.
            A Aninha engatinhou para debaixo da sua cama.
            - Sou um bebê na barriga da mamãe - anunciou. Então começou a engatinhar para sua mãe, estava meio confinada debaixo da cama. - Estou saindo para nascer - disse pulando e dando um beijo na sua mãe.
            - Que neném lindo - disse sua mãe. - Estou feliz que você nasceu de mim!
            Aninha fez de conta que uma de suas bonecas estava tendo um neném. Ela colocou algodão debaixo do vestido para que parecesse grande e redonda como sua mãe. Sua mãe estava ficando um tanto cansada ultimamente, então Aninha brincou que sua boneca também estava cansada. Às vezes resmungava um pouco, fazendo-a deitar-se na casa de bonecas enquanto a cobria e acomodava.
            Quando chegou a primavera, a mãe da Aninha lhe disse que iria ter o neném nas próximas semanas.
            A mãe da Aninha lhe disse:
            - Quando o neném estiver pronto para sair, vou ter que ir para o hospital. As mães geralmente não sabem exatamente quando o neném está pronto para nascer. Se acontecer no meio da noite, por exemplo, você quer que eu a acorde para dizer tchau antes de ir?
            - Quero - disse a Aninha. - Por favor, me acorde. Não quero que você vá sem eu dizer tchau.
            - Muito bem, - disse sua mãe - se você estiver com muito sono para acordar, vou deixar uma notinha especial na mesa da cozinha. E olhe, tenho um presente especial para você. - Ela segurava uma pequena caixa.
            - O que é? - perguntou Aninha. Ela adorava presentes.
            - É uma gravação que fiz para você lendo suas histórias da Bíblia favoritas. Você pode ouvi-la no gravador aqui. Enquanto eu estiver no hospital, sempre que quiser me ouvir contando uma história, tudo que precisa fazer é escutar esta fita.
            - Puxa, que legal! - disse Aninha. Ela achou uma ótima idéia.
            Os dias se passaram. Parecia um longo tempo para a Aninha desde que sua mãe lhe disse que o neném viria logo.
            Foi uma surpresa para ela quando sua mãe foi ao seu quarto quando ela estava pronta para dormir uma noite e disse:
            - Querida, acho que o neném está pronto para sair. O papai vai me levar para o hospital.
            - O que eu vou fazer enquanto você estiver no hospital? - disse a Aninha, sentindo-se chateada subitamente.
            - O papai e o resto da família vão cuidar bem de você -disse sua mãe - e eu voltarei logo. Eu a verei em alguns dias. - Ela deu outro grande abraço e beijo na Aninha.
            No dia seguinte, o papai veio para casa depois de visitar a mamãe no hospital. Ele tinha uma foto com ele e disse para a Aninha:
            - Veja! Você quer ver uma foto da sua nova irmãzinha?
Aninha olhou. A foto mostrava um embrulho branco com uma carinha cor de rosa no meio. A mamãe estava na foto também.
            No dia seguinte, o papai anunciou no café da manhã:
            - A mamãe está vindo para casa hoje.
            Aninha estava muito emocionada. Agora tudo pode voltar ao normal, pensou.
            Aninha começou fazendo um desenho bem especial para a mamãe. A mamãe adorava seus desenhos. Ela os pendurava nas paredes e às vezes, as pessoas que vinham visitar diziam como eles eram bonitos e que menina esperta a Aninha devia ser.
            Subitamente ouviu-se o barulho do carro. A mamãe estava em casa! Aninha olhou pela janela. A mamãe e o papai estavam andando na calçada. Mamãe estava carregando o neném. Aninha correu para a porta.
            - Oi, mamãe! - disse ela. - Olha o que fiz para você! - e empurrou seu desenho na sua mãe.
            - Aninha! - disse sua mãe. - Senti saudades de você, querida! É tão bom estar em casa de novo. - Ela se abaixou e deu um grande beijo na Aninha. Ela não podia dar-lhe um abraço porque seus braços estavam ocupados com o neném. Ela não podia pegar o desenho tampouco porque suas mãos estavam ocupadas segurando o neném. O papai pegou o desenho no seu lugar.
            - Olhe para sua irmãzinha, querida - disse ela. - Diga oi para ela.
            Aninha se inclinou e olhou para ela. Ela era enrugada e vermelha, pensou Aninha.
            Dentro da casa, o papai colocou o desenho da Aninha na mesa. - Vamos colocar a Cíntia na cama - disse a mãe da Aninha. - Você gostaria de ajudar, Aninha?
            Aninha se entusiasmou. Ela gostava muito de ajudar sua mãe.
            Por que você não estica aquele cobertor no moisés e depois pode me ajudar a trocar a fralda da Cíntia - disse sua mãe.
            A mãe da Aninha colocou a Cíntia na sua mesa de trocar. Ela disse:
            - Agora vou limpá-la e você pode me ajudar molhando as bolas de algodão e dando-as para mim. Isso será uma grande ajuda.
            Era uma sensação gostosa poder ser uma ajuda tão importante para sua mãe.
            Cíntia tinha os olhos abertos e olhava ao seu redor. Ela tinha olhos bem grandes e parecia gostar de olhar particularmente para Aninha. Ela mexia as mãos no ar enquanto olhava.
            Eram as mãozinhas mais pequeninas que Aninha já tinha visto. Aninha tocou uma. Era tão macia e sedosa. Aninha nunca tinha sentido mãos como aquelas. Cíntia apertou o dedo da Aninha com os seus como se estivesse esperando pra segurá-los por muito, muito tempo. Ela chutou e fez barulhinhos. Parecia feliz.
            Depois, a mãe da Aninha disse:
            - Obrigada, Aninha, isso foi uma grande ajuda. - Ela então bateu as mãos e disse:
            - Ah, quase ia me esquecendo! Tenho um presente para você!
            - Oba! O que é? - ela estava bem empolgada.
            - Aqui está - disse sua mãe, entregando-lhe uma caixa.
            Aninha desembrulhou o papel. Era um neném de brinquedo. Ela veio com fraldas, uma mamadeira, uma barrinha de sabão, babador e cobertor.
            - Que legal! - disse Aninha. - Vou chamá-la Verônica. Vou trocar sua fralda - e correu para o banheiro com a Verônica.
            Aninha tinha achado que quando sua mãe voltasse para casa, tudo voltaria ao normal, mas não foi assim.
            A razão era... a Cíntia. Se a Cíntia não precisasse trocar a fralda, precisava mamar; se não precisasse mamar, precisava ir dormir; se não precisasse ir dormir, precisava que brincassem com ela, e daí por diante. Nos raros momentos em que sua mãe não estava fazendo algo com a Cíntia, ela estava tão cansada que não tinha energia para brincar com a Aninha como costumava fazer. Aninha se sentiu meio deixada de lado e disse à sua mãe.
            - Venha aqui, Aninha - disse sua mãe. Ela segurou os seus braços e sentou Aninha no seu colo. - Você se lembra o que lhe disse sobre o amor? - disse sua mãe - sobre não ser um pedaço de torta e que existe amor mais do que suficiente para todos na família?
            Aninha balançou a cabeça.
            - Olha, o papai e eu ainda amamos você tanto quanto antes. Ultimamente eu não tenho passado muito tempo com você como costumava, mas isso não significa que ame você menos. É que os nenéns têm tantas necessidades, e cuidar deles toma tempo. Mas se você alguma vez sentir que precisa de amor e atenção extra, tudo que tem que fazer é nos dizer e nós lhe daremos.
            Aninha sentiu-se um pouco melhor ao ouvir aquilo.
            - Sabe, - continuou sua mãe - algumas crianças acham que a única maneira de conseguir atenção extra é sendo más ou tolas ou agindo como um neném. Mas você não precisa fazer isso. Tudo que precisa fazer é nos dizer que quer um pouco mais de amor e atenção.
            Naquela tarde, quando a mamãe estava amamentando a Cíntia, Aninha se sentiu meio abandonada.
            - Você me disse para dizer quando eu quisesse atenção extra, mãe - disse ela, tentando subir no colo de sua mãe.
            Sua mãe lhe deu um beijo.
            - Você está se sentindo meio abandonada? Olha, assim que acabar de alimentar a Cíntia, você pode me ajudar a trocar a sua fralda e então brincaremos de um jogo juntas, OK?
            Aninha concordou. Ela se sentia melhor.
            Um dia, a mãe da Aninha estava fazendo algo na cozinha quando Cíntia começou a chorar.
            - Você brinca com ela, Aninha? - pediu. - Vê se consegue fazê-la parar de chorar.
            Aninha foi até a Cíntia. Ela estava deitada na caminha que balança muito chateada. Seus braços e perninhas estavam batendo e seu rostinho todo vermelho.
            Aninha se aproximou e sorriu para ela da maneira que tinha visto sua mãe fazer. Ela balançou o chocalho que tinha pego. A Cíntia parou de chorar instantaneamente e deu um grande sorriso para a Aninha. A Aninha lhe deu um sorriso ainda maior. Cíntia olhou para ela como se fosse a coisa mais maravilhosa no mundo. Aninha sacudiu o chocalho e Cíntia deu risadinhas de alegria.
            - Sabe, mãe - disse Aninha. Ela tinha acabado de se dar conta de algo. - Acho que a Cíntia gosta de mim.
            - Você não sabia disso? - disse sua mãe. - Cíntia acha você absolutamente incrível. Você é sua irmã maior. Ela é vidrada em você. Você não é um adulto, mas pode fazer tudo melhor que ela e pode fazer muito mais coisas que ela. Ela adoraria poder fazer as coisas tão bem quanto você.
            - É mesmo? - disse Aninha. - Que nem o meu primo Pedro?
            - É, - disse sua mãe - que nem o Pedro.
            - Puxa! - exclamou Aninha - Eu nunca soube disso. - ela ficou toda contente. E com um pouquinho de pena da Cíntia também, porque sabia que Cíntia sempre seria mais nova que ela, então, ela sempre saberia mais e poderia fazer mais coisas que Cíntia. Ela poderia até lhe ensinar algumas coisas, da mesma forma que às vezes ensinava coisas para o Pedro. Ela gostava de ensinar as pessoas.
            - Eu talvez lhe ensine algumas coisas - disse Aninha para a Cíntia, e sacudiu o chocalho novamente. Cíntia fez barulhinhos de alegria e sorriu. Aninha lhe retribuiu o sorriso. Parecia que ter uma irmãzinha ia ser muito divertido!

Poema:

Está frustrada, mamãe?
Está cansado, papai?
Será que ninguém aprecia
O dia difícil que lá se vai.

Não tem ninguém por perto
Para um obrigado em voz alta
Por todo o trabalho de hoje
Apesar de tudo que lhe falta?

Você se pergunta se verá a luz
E se um dia conseguirá chegar,
E por que seus filhos precisam
Que fique firme, sem vacilar.

Pois se algum dia desistir,
Quem deles cuidará?
Mas este pensamento o motiva
A querer suas forças renovar!

O Filho de Deus era um homem
Com força apenas mortal -
Mas como se valeram dEle e O usaram
E o compeliram até o final!

Com mãos cansadas Ele tocou e curou
Com lábios cansados falou!
Com pés cansados andou solitário
- E fez tudo isso porque os amou!

Sua vida com certeza não lhe pertencia
Pois que Ele a entregou
Àqueles que queriam tocar e ouvir
As Palavras que Ele lhes falou.

Senhor, ajude-me a dizer
Com sorrisos e um coração feliz,
"Não é sacrifício nenhum,
Quando faço o que me diz!"

E dia a dia ao ensinar,
E pequenas vidas tecer,
Sei que um dia meu trabalho,
Cem vez mais irá render.

Ah, que pequeno preço a pagar,
Por uma causa tão honrosa,
Ensinar seus corações a confiar em Deus,
E guardar Sua lei amorosa.

Mãe frustrada e pai cansado,
Eu simpatizo com seu labutar,
Mas dê tudo de si e Ele lhe dará
A força e a alegria que precisar!

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